sexta-feira, 15 de junho de 2012

MÃOS ALGEMADAS NÃO ABRAÇAM

                                                                  

 Recebi uma carta de um antigo colega meu de escola que está preso. Ele me enviou um pensamento muito bonito, que ampliei um pouco e estendi o alcance do sentido desse seu pensamento. Na verdade, nós, aqui no alojamento, também estamos, simbolicamente, de mãos algemadas. Os doentes, nos hospitais ou em seus leitos de dor, estão de mãos algemadas. Os viciados em drogas e álcool estão de mãos algemadas. Os que não se esforçam em ter paciência com as coisas e vivem gritando e esbravejando contra tudo e contra todos, também estão de mãos algemadas. O rico, que se apega com unhas e dentes à sua riqueza e ao status de sua vida, tem as mãos algemadas. Quem está de mãos algemadas não consegue abraçar ninguém, mas pode ser abraçado; não partilha, mas pode receber. Não tem mais ninguém para amar, mas pode ainda ser amado.


Quando amamos, temos o controle do ato de amor; quando somos amados e nos deixamos amar, é a outra pessoa que tem o controle e isso pode ser estafante! Vejam o que Jesus nos diz no Apocalipse 3, 20: “Eis que estou à porta e bato; quem ouvir a minha voz e abrir-me a porta, eu entrarei e cearemos juntos” Jesus se auto-convida para entrar em nossa casa. Ele não força. Não está oferecendo a sua casa, mas a sua pessoa. Só depois que o aceitarmos em nossa vida, só então vamos entrar em sua casa e cear com ele. Antes de amar, nós já somos amados por Deus desde toda a eternidade, como vemos em Jeremias 31,3: “Com amor eterno eu te amei”.


Quando aceitamos ser amados, quando aceitamos receber, só então aprendemos a ser humildes, a perceber quantas pessoas nos amam, a ver que, sozinhos, não somos ninguém. Sem Deus, que nos amou por primeiro não somos nada! O Beato Carlos de Foucauld, enquanto exercia o ato de amor pelo povo tuaregue, não conseguiu entrar em contato com eles. Isso só foi conseguido , ou seja, ele só conseguiu ser correspondido em sua amizade quando ficou doente e foi ajudado por eles! Enquanto ele partilhava, nada acontecera; enquanto recebia, tudo aconteceu.


No alojamento dependemos, em tudo, dos outros. Aqui, neste fim de mundo, falta tudo, principalmente dentistas bons. A maioria só consegue extrair os dentes. Como há banguelas nesta região! Quando se consegue ir a algum lugar para tratamento, isso custa muito caro e o que o pessoal recebe aqui não dá para o que ser tornou um “luxo”: tratar dos dentes.


Segundo esse meu antigo colega que está na prisão, lá o fulano é duplamente condenado: com a prisão e com a perda dos dentes. Aqui não é muito diferente!


O preso, diz ele, perdeu sua honra, sua dignidade, sua cidadania, seus direitos sociais e políticos, sua liberdade, seu direito de ir e vir, sua família, seus bens, muitas vezes (a maioria) é abandonado pela esposa, ou pelos filhos. Os seus amigos não podem vê-los, até que saia da prisão. As visitas só são permitidas às esposas, irmãos, filhos (as). A saúde é o bem mais precioso para os presos. Na prisão, ficar doente pode significar a morte.


Aqui no alojamento tudo isso também acontece. Os que aqui moram, são relegados ao esquecimento, a serem “eremitas por acaso”, eremitas forçados pelas circunstâncias. E você, amigo, amiga, não está também numa dessas situações, em que é obrigado a se isolar?


Meu colega lembra que a prisão não deve ser tida como um castigo, mas como um tempo e lugar de recuperação. De esperança, de vida nova, de um reaproveitamento do preso para a sociedade. Não se conserta a violência com mais violência! São Francisco de Sales dizia que pegamos mais moscas com uma gota de mel que com um barril de vinagre! Este trabalho aqui no alojamento também deveria ser uma fonte de alegria, de prazer, de satisfação, e não essa angústia que lemos nos olhos dos que aqui vivem.


Na prisão há vários tipos de pessoas: Os que realmente cometeram crimes graves a sangue frio, os que o fizeram num momento de fraqueza, os que cometeram crimes leves, mas então sendo julgados e condenados com penas injustas, desproporcionais, como se fossem crimes graves; Os que são inocentes, mas foram julgados culpados.


Aqui no alojamento, nem todos são pessoas confiáveis. Muitos escondem coisas de arrepiar os cabelos de seu passado.


Meu colega preso perguntou a um condenado que já cumprira 10 anos de pena, se ele se considerava castigado. Ele lhe respondeu que não considerava um castigo o que vivera até então, na prisão.


Quem consegue recuperar-se, na prisão, é por pura iniciativa pessoal, pois não há uma assistência psicológica, profissional e humana entre eles. Quem se recupera é por pura graça de Deus que o consegue, por insistência e perseverança pessoais, e esses merecem todo o aplauso, respeito e admiração.


A justiça deveria usar mais e melhor as penas alternativas, com penas em regime de liberdade. O tempo de prisão é muito longo, desnecessário e pernicioso para qualquer um. Há muitos desvios psicológicos que tempo algum de prisão resolve, mas que um bom tratamento o faria.


O nosso querido Papa João Paulo II, por ocasião do jubileu, nos Cárceres, em 09-07-2000, insistia que se reduzissem as penas dos prisioneiros,“encorajando-os no esforço do arrependimento pelo mal cometido e estimulando a sua emenda pessoal (...) e a olharem o futuro com nova esperança”.


Meu colega disse, também, que em muitos tipos de crimes não há necessidade de provas para a condenação. Em alguns casos, basta a palavra da vítima e por isso, com apenas uma acusação bem bolada a pessoa é presa! É o que aconteceu com ele, que foi caluniado pela amásia. Esta se arrependeu posteriormente, mas não pôde se retratar, pois iria presa! Ela compensou seu erro visitando-o todas as semanas!


Ele também me escreveu dizendo que há entre eles muitos jovens de 18 a 20 anos. Talvez são vitimas da ideologia permissivista e hedonista da mídia. A propaganda que leva os jovens a desejarem o poder é incrivelmente massacrante e excitadora de crimes!


Um desses jovens recebeu a visita do filhinho de 3 anos. Na despedida, este agarrou o pescoço do pai dizendo “Quero ficar com o papai”. Quantos males a prisão acarreta! Talvez até maiores que o “crime” cometido! Esse rapaz foi completamente absolvido após 1 ano e 3 meses de prisão. Quem pagará os males que essa prisão acarretou a esse menino e a essa família?


Há crimes que não são punidos, como o aborto “legalizado”. O governo aprovou o aborto em caso de estupro e o uso de embriões para pesquisas de células – tronco. A Igreja Católica condena esses atos porque sabe que as pessoas têm alma imortal desde o instante da concepção! (Jeremias 1,5). Se a criança é filha de uma vitima de estupro, que seja adotada ao nascer e pronto! Ela não tem culpa de ter sido fruto de estupro! Também os famosos crimes do colarinho branco nunca são punidos!


Mãos algemadas não abraçam! Além de não poder abraçar, quem tem as mãos algemadas simbolicamente também não podem exercer suas profissões, nem sua cidadania, nem qualquer ato social. O próprio Jesus ficou imobilizado quando o pregaram na cruz. Ao algemar alguém, é o próprio Cristo que algemam, pois Jesus disse tudo o que fizermos aos outros, é a Ele que o fazemos.


Quando um preso morre, algumas autoridades comentam: “Que bom, um a menos!”.


Morrem eles numa fria cela-enfermaria, vazia, sem ninguém ao lado para nos fechar os olhos, ou fazer uma oração. Aliás, isso também ocorre por aqui, no alojamento. Se o preso estiver no hospital, morre algemado e com corrente nos pés. Suas almas, porém, purificadas, sobem livres para o paraíso: o preso pagou pelo seu crime, sua falta foi reparada pelo seu sofrimento.


Só não algemam o preso no caixão. Ali são, finalmente, livres. Dali entrarão, livres, no paraíso, purificados pelos sofrimentos, humilhações, dignidade zero, isolamento, incompreensões, medo, e quase tudo o que um demônio sofre no inferno.


No paraíso, nós todos nos encontraremos com ex-prisioneiros ilustres: Jesus Cristo, os apóstolos, Jeremias, S. João Batista, S. Paulo, S. José Calazans (o 1° que fundou escolas para crianças pobres), S. Vicente de Paulo (que foi até escravo), o cardeal Van Thuan (13 anos preso, sendo 9 de solitária), S. João de Cruz e tantos outros mártires.


Nossa sociedade está doente sofre de hipocrisia aguda. Precisa de uma recuperação decente, honesta, realista e eficaz.


Quanto a você, reze por todos os que sofrem nesses alojamentos do Brasil todo, pelos presos e demais “algemados”, como os doentes e viciados! Talvez isso acabe algum dia! Enquanto isso, eles também na certa rezam por você, que está livre! Só não lhes peça para abraçá-lo (a), pois MÃOS ALGEMADAS NÃO ABRAÇAM!


Postado por Teófilo Aparecido às 13:42
                                                                  

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