segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O MUNDO DO MENINO IMPOSSÍVEL

        POESIA DE JORGE DE LIMA

         


Eu tive a felicidade de herdar, do nosso amigo D. Edson Damian, o original do poema que ele sempre declamava nos retiros e encontros da Fraternidade Jesus-Cáritas. Quando ele foi ordenado bispo, percebeu que essas declamações seriam improváveis e me enviou o original do qual ele decorou a poesia, ainda escrito à máquina de escrever. Partilho com vocês a lembrança daqueles inesquecíveis encontros...


Fim de tarde, boquinha da noite,
 com as primeiras estrelas e os derradeiros sinos.
Entre as estrelas, e lá, detrás da igreja,
surge a lua cheia para chorar com os poetas.

E vão dormir as duas coisas novas deste mundo: o sol e os meninos.

Mas ainda vela o menino impossível, aí ao lado,
enquanto todas as crianças mansas dormem,
acalentadas por mão-negra da noite.

O menino impossível que destruiu os brinquedos perfeitos que os vovós lhe deram:
o urso de Nuremberg,
o velho barbado iugoslavo,
as poupées de Paris aux cheveux crêpes (as bonecas de Paris de cabelos crespos),
o carrinho portugês feito de folha-de-flandres,
a caixa de música tcheco-eslovaca,
o polichinelo italiano made in England,
o trem de ferro de USA,
e o macaco brasileiro de Buenos Aires, movendo la cola y la cabeza...

O menino impossível, que destruiu até os soldados de chumbo de Moscou,
e furou os olhos de um Papai-Noel,
brinca com sabugos de milho,
caixas vazias,
tacos de pau,
pedrinhas brancas do rio.

"Faz de conta que os sabugos são bois...
faz de conta...
faz de conta..."

E os sabugos de milho mugem como bois de verdade!
E os tacos que deveriam ser soldadinhos de chumbo
são cangaceiros de chapeu-de-couro.

E as pedrinhas balem...
coitadinhas das ovelhas mansas,
longe das mães,
presas nos currais de papelão

É boquinha da noite,
no mundo que o menino impossível povoou sozinho.

A mamãe cochila,
o papai cabeceia,
o relógio balala.


e vem descendo uma noite encantada,
da lâmpada que expira lentamente na parede da sala.

E o menino pousa a testa
e sonha
dentro da noite quieta
da lâmpada apagada,
COM O MUNDO MARAVILHOSO QUE ELE TIROU DO NADA!


HOMENAGEIO AQUI SANTA TERESINHA, QUE SOUBE TÃO BEM TIRAR DO NADA QUE POSSUÍA UMA VIDA MISSIONÁRIA, SEM SAIR DO CONVENTO. DISSE UM DIA:

"A alegria não está nos objetos, mas no fundo do coração.
Podemos senti-la tanto no mais rico palácio,
como na mais pobre prisão".

    







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