quarta-feira, 24 de outubro de 2012

MORTE, JUIZO, INFERNO, E PARAIZO

                                              

Morte, Juizo, Inferno, Paraiso

A doutrina da Igreja ensina que nossa vida não se esgota nesse mundo. Fazemos um caminho que termina com a morte. A morte, porém, não é uma volta ao nada. É a chegada ao nosso destino definitivo. Quem crê em Cristo e caminha com Ele tem a firme esperança de participar com Ele da plenitude da vida, da vida eterna, que é vida com o Pai e com o Filho nos laços do Espírito de amor. Jesus disse aos discípulos no discurso de despedida: “Vou preparar um lugar para vós. E depois que eu tiver ido e preparado um lugar para vós, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que onde eu estiver, estejais também vós”(Jo 14,2-3). Esta é a promessa de Jesus para seus amigos. Vista à luz da fé, a morte é esse momento em que o Senhor vem nos buscar. A única condição é que estejamos no Caminho, seguindo seus passos. Nosso destino final depende do que fizermos de nossa vida nesse mundo. Seremos para sempre aquilo que nos tornarmos pelas decisões de nossa liberdade no tempo da história. Uma vida vivida no pecado conduz à morte eterna. Mas é sempre possível, pela graça de Deus, até o último momento, voltar-se para Deus em sincero arrependimento. À morte se segue o juízo particular assim descrito pelo Catecismo da Igreja Católica: “Ao morrer, cada homem recebe na sua alma imortal a retribuição eterna, num juízo particular que põe a sua vida em referência a Cristo, quer através duma purificação, quer para entrar imediatamente na felicidade do céu, quer para se condenar imediatamente para sempre. ‘Ao entardecer desta vida, examinar-te-ão no amor’ (São João da Cruz)”.Em que consiste o Juízo Particular? A verdade e o amor de Deus, a luz de sua presença, revelarão para cada um de nós o que foi nossa vida e qual o destino que merecemos. Essa verdade atormentou a alma de São Francisco de Sales a tal ponto que ele chegou a convencer-se de que estava destinado ao Inferno. Libertou-se desse terror quando pediu a Nossa Senhora: “se devo odiar a Deus eternamente no inferno, suplico-vos uma coisa: obtende-me pelo menos a graça de amá-lo de todo o meu coração nesta terra”. Faz-nos bem experimentar um santo temor ao meditar sobre o juízo particular. Apesar de nossos esforços em praticar o bem, acompanha-nos sempre a consciência de sermos pecadores. A confiança na misericórdia de Deus e o espírito de penitência devem nos tranqüilizar. Acomodação, porém, nunca! A verdade sobre uma purificação depois da morte é para todos nós consoladora. O texto acima afirma que o Juízo particular coloca nossa “vida em referência a Cristo” também “através de uma purificação”. E logo a seguir o Catecismo da Igreja ensina: “Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não de todo purificados, embora seguros da sua salvação eterna, sofrem depois da morte uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrar na alegria do céu.”(n.1030). Provavelmente muitos de nós morreremos em estado de amizade com Deus, mas sem ter chegado a abertura total de nosso ser para Deus. Ao morrermos, em estado de graça, experimentaremos, como jamais experimentamos nesta existência, o amor de Deus. E haveremos de exclamar: “Deus me ama tanto e amei tão pouco no tempo da vida”. Esta é a dor da purificação que vem logo depois da morte. Mas seu amor nos puxará para dentro de seu mistério e seremos totalmente livres para amá-lo eternamente. Na purificação após a morte já teremos a certeza de nossa salvação e aceitaremos com gratidão a dor que nos causarão a lembrança dos pecados cometidos nessa vida e suas marcas em nossas almas. Nós que ainda peregrinamos estamos em comunhão com os irmãos e irmãs do purgatório. Essa comunhão nos convida a oferecer orações e sacrifícios por eles bem como nos permite contar com sua intercessão. Assim nos ensina a Igreja: “Reconhecendo claramente esta comunicação de todo o Corpo místico de Cristo, a Igreja dos que ainda peregrinam, cultivou com muita piedade desde os primeiros tempos do Cristianismo a memória dos defuntos e, «porque é coisa santa e salutar rezar pelos mortos, para que sejam absolvidos de seus pecados» (2 Mac. 12,46), por eles ofereceu também sufrágios.”(LG 50). As verdades últimas sobre nossa existência nos motivam a viver uma vida santa. Interessante o nome que se dava, e ainda se dá, a essas verdades: os Novíssimos do Homem. Por que novíssimos? A última novidade – notícia que darão de nós -, depois da qual nenhuma outra será anunciada, é esta: a nossa morte. A Igreja diz que não acaba tudo aí e afirma que as últimas coisas são quatro: morte, juízo, inferno e paraíso. São verdades que nos motivam a viver com intensidade e profundidade a vida, no seguimento de Jesus e na imitação dos santos e das santas, certos de que Cristo morreu e ressuscitou para que nós pudéssemos, com a graça do Espírito Santo, chegar à plenitude da vida e com Ele reinarmos por toda a eternidade. Rezemos pelos mortos para que entrem na plenitude do céu e aguardemos na esperança nosso reencontro com eles no mistério de Deus!

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues

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