domingo, 5 de agosto de 2012

PALAVRA DO MES

Colocou-o no seu jumento e conduziu-o à hospedaria


                                         
O samaritano, aquela pessoa de quem já falamos condenada pelos judeus, considerada abandonada por Deus, não somente usou daquilo que tinha naquele momento, derramando óleo e vinho, mas decidiu levar até o fim a ajuda para o homem: carregou-o no seu jumento e o levou para a hospedaria.

É de extrema importância compreender a atitude do samaritano para o nosso caminho até Deus e aos irmãos que mais se sentem abandonados e rejeitados.

Ao ler a parábola do bom samaritano, sentimos intensamente o desejo de compreender e realizar aquilo que Jesus nos propõe. Sentimos uma santa “ansiedade”, como se a parábola nos impulsionasse a experimentar aquilo que lemos. Sentimos o desejo de rezar para que Deus nos dê a graça de compreender todos os segredos escondidos dentro das palavras de Jesus. “Sim, Jesus, dai-nos a graça de compreender com a vida, não somente com a inteligência essas palavras. Não queremos ser como o levita ou o sacerdote que passa adiante com medo de se comprometer, seguindo leis que matam o amor ao próximo. Transformai a nossa vida para que  nossa ação com os últimos que são os pobres, seja material ou espiritualmente, possa ser conforme os Seus desejos. Sabemos que em nós prevalece a soberba, o egoísmo, às vezes o medo de nos aproximar de quem poderia nos tirar a paz humana que construímos em nossa mente. Tirai, Jesus, as nossas defesas e preconceitos. Tirai o medo de nos comprometer e nos tornar simples na escuta da Sua Palavra. Eis-nos aqui prontos para escutar, meditar e viver a Sua proposta para a nossa vida.”

É o mesmo Jesus que nos dá a resposta com a Sua vida. Ele, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Ao ver  que havia chegado o tempo,  entregou-se até o fim e “correu”, literalmente, correu, foi depressa, sem olhar ninguém e nada e sem nenhum medo, da Galileia até Jerusalém para, sem reservas, dar a vida até a morte. Deus Pai tinha preparado o resgate da humanidade desde séculos através dos profetas que anunciavam a chegada do Seu Filho para salvar a humanidade. Lemos isso em (Isaias 53) “Não tinha beleza nem esplendor que pudesse atrair o nosso olhar. Era desprezado e abandonado pelos homens, homem sujeito a dor, familiarizado com o sofrimento...” E no entanto, eram nossos sofrimentos que Ele levava sobre si, nossas dores que Ele carregava. Mas Ele foi trespassado por causa das nossas transgressões, esmagado por causa das nossas iniquidades. O castigo que havia de trazer-nos a paz caiu sobre Ele, sim, “por suas feridas fomos curados”.

Jesus nos ensina. Ele se torna o bom samaritano dando-se plenamente para nós e curando as nossas feridas com o Seu Sangue preciosíssimo. Ele se torna o abandonado, o rejeitado, o último de todos. O estrangeiro. Nos  tempos atuais, diríamos que Ele se tornou o menino de rua, bêbado, drogado, prisioneiro, prostituta. Ele se torna cada um de nós que se sente rejeitado, ferido pelos pecados presentes e passados, pelas feridas recebidas dos pais ou da sociedade. Ele assume todos nós e nos explica como devemos ser: sem jamais nos fechar, amar sempre. Devemos assumir as feridas dos outros, carregar seu peso, o pecado de quem nos aproximamos.

Temos em nosso meio uma prostituta que conhecemos há dez anos. Tentamos de tudo até agora. Acolhemo-na  em nossas casas, fomos procurá-la muitas vezes na rua porque, fugindo,  joga-se novamente no craque e na prostituição. Recaiu inúmeras vezes. Quando pensávamos que havia se curado, recaía e, a última vez, até quase a morte. Ela mesma, tempos atrás, dizia que não tinha mais forças nem esperança ao se sentir morrer. Corpo, vontade, inteligência, espiritual mortos. O que fazer? Desistir? Tentar novamente? Encontramos a solução nas palavras de Jesus: “o samaritano carregou-o nos seu jumento e o levou a hospedaria”. Lembramo-nos, também, do trecho de Isaias: “Mas Ele foi trespassado por causa das nossas transgressões..., sim, por suas feridas fomos curados”. Jesus nos pedia ser o bom samaritano. Novamente a acolhemos.

O sentido verdadeiro da parábola do samaritano é tornar-nos como Jesus: abandonado para os outros! Jesus abandonado é o nosso tudo e a explicação da parábola. Ele aceitou se entregar na cruz por nós. No momento da morte, quando estava na cruz, sentiu-se abandonado até pelo Pai do céu: “Deus meu, Deus meu porque me abandonaste”? Ele aceitou ser esmagado e justo, foi condenado. É Jesus abandonado! Mas Ele nos resgatou! Pelas Suas chagas fomos curados! Éramos sem esperança, ninguém podia se salvar porque o nosso pecado não permitia ver o rosto do nosso criador. A nossa fraqueza, pecado, era tal que as portas do céu eram fechadas. As trevas reinavam em nós e no mundo inteiro. Mas pelas Suas chagas fomos curados! E Ele, então, dando-nos o exemplo nos impulsiona a ser, fazer, viver como Ele, amando até o fim.

Como samaritanos devemos assumir a responsabilidade de amar os outros até o fim seja quem for.  Não há meio termo. Não podemos ser medrosos e nem viver uma vida morna. Não podemos olhar o outro com uma atitude de soberba. Todos, todos devemos carregar o próximo no nosso jumento e levá-lo à hospedaria para cuidar dele até o fim.  Por isto que o trabalho do Movimento Aliança de Misericórdia não para e não termina nas visitas ao povo de rua, às prostitutas ou às prisões. Não! Não termina ai, mas com cuidado forma casas de acolhida para procurar salvar aquele que foi roubado da sua dignidade humana e social.  

Por isto é interesse do Movimento dar para o ferido a Palavra que salva e no final permitir à pessoa acolhida reinserir-se na sociedade com um trabalho digno e respeitado. Esta é a chave que nos abre à compreensão da parábola do samaritano. Devemos ser como o Jesus na Sua paixão! Assumir a vida dos outros. Carregar o peso e os pecados dos outros. Trazê-los sempre de volta à nossa hospedaria. Devemos trazê-lo de volta na nossa hospedaria. Jesus chegou a morrer por nós pecadores e Nele devemos morrer pelos outros.

Na Polônia conhecemos um homossexual que nos pedia para ajudá-lo a sair da prostituição. Não aguentava mais ser usado pelos outros sexualmente e usar os outros. A vida dele havia se tornado uma escravidão. Ele nos falava que já se sentia morto e podre. Aceitamo-lo no nosso grupo da cidade e pedimos ao Espírito Santo que o ungisse com o óleo abençoado e o vinho da Eucaristia. Tornou-se um grande evangelizador que anuncia as maravilhas que Deus operou em sua vida

Quantos testemunhos cada um de vocês do Movimento poderiam contar aqui nestas páginas. Testemunhos que dão vida e nos faz entender que a nossa vocação é esta: sendo-nos pecadores e descobrindo que fomos resgatados da nossa miséria, corremos ao encontro de quem ainda não conhece Jesus que nos curou com

Suas feridas, derramando o Sangue para cada pessoa. 

Colocou-o no seu jumento e conduziu-o à hospedaria.

Renovemos nosso sim fazendo a experiência de ser samaritano para os outros. 
                                                 




                                                                                    

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